“Chamavam-na Ophiussa, pois dizem que entre os seus habitantes há um povo que descende de serpentes.” — Rufus Festus Avieno, Ora Marítima, séc. IV
No século IV, o geógrafo latino Rufus Festus Avieno compilou um mapa literário da costa atlântica, baseado em fontes muito mais antigas — provavelmente fenícias. Nesse relato, o extremo ocidental da Península Ibérica surge com um nome invulgar:
Ophiussa, a Terra das Serpentes.
A referência, embora breve, aponta para um imaginário já enraizado.
Aqui, a serpente não é apenas animal:
É símbolo.
Marca identitária.
Memória ancestral.
O mito de um povo descendente de serpentes pode ser interpretado de várias formas:
✧ como ligação profunda à terra
✧ como metáfora de sabedoria primordial
✧ ou como eco de cultos anteriores à presença romana
Seja qual for a sua origem, o nome Ophiussa sobreviveu aos milénios como indício de uma tradição simbólica que permaneceu viva no substrato cultural da região.
Ao invocar este nome como ponto de partida, este guia propõe uma leitura do território onde a simbologia da serpente volta a emergir, não como lenda decorativa, mas como mote para uma reinterpretação do espaço, da memória e da ligação entre ser humano e paisagem.